RESENHA por Leo Chioda
Nunca o Tarô de Marselha foi tão bem articulado em um livro repleto de informações úteis a leigos, intermediários e veteranos
Tarô de Marselha: a jornada do autoconhecimento – guia do usuário para tiragens e interpretações, é o primeiro livro de Florian Parisse, renomado tarólogo francês, lançado pela Editora Pensamento (confira a apresentação e o link para compra logo abaixo).
O livro foi estruturado em dois grandes capítulos bem divididos: o primeiro é o Retrato dos 22 Arcanos Maiores e o segundo é A Tiragem em Cruz: Manual de Instruções, método que se tornou a especialidade do autor. As quase 200 páginas do primeiro discorrem sobre a simbologia dos Arcanos Maiores em determinadas áreas da vida que servem para interpretar a Tiragem em Cruz, um arranjo tradicional da Cartomancia que aqui é exposto e ensinado com as várias adaptações e particularidades testadas e assinadas por Parisse.
Um dos pontos altos (e bastante úteis) deste livro é a maneira como o autor disseca os Arcanos Maiores: cada carta é tomada nas mãos como um ser vivo, com suas características peculiares e sempre distintas dos demais, sempre dignas da dedicada atenção do leitor. Ao contrário de muitos autores que tratam as cartas como meras peças mortas de um jogo, que são simplesmente combinadas para resultar em significados bem frios, Parisse ressalta, na breve e importante introdução ao livro, que “cada arcano vive, existe e exprime sua quintessência por meio de seu grafismo". Quintessência, em outras palavras, é o que há de melhor, de mais apurado e importante dos arcanos. E ela está nas próprias imagens, considerada pelo autor como a obra prima de um mestre da pintura.
O autor não só acredita na natureza viva do Tarô de Marselha como comprova a onisciência das cartas logo nas primeiras páginas. Começando pelo arcano O Mago, adentramos o recinto — o qual o autor chama de “retrato” — dos Arcanos Maiores, discorridos em seções bem detalhadas que vão das forças e fraquezas de cada carta até o modo como funcionam nas áreas profissional, financeiro, afetivo e na de saúde, sempre detalhando os bons e os maus aspectos desses contextos.
Ao longo do capítulo sobre a Tiragem em Cruz, com revelações de aplicação do autor em seus atendimentos na França, destaca-se "A Caixa de Ferramentas e os Casos Práticos", as duas últimas seções do livro. A primeira delas oferece particularidades de leitura desse método, cuja versão extensamente discutida neste livro (com exemplos de leitura e interpretações completas de jogos) resulta na opus magnum de Florian Parisse, já que devidamente arranjada com ferramentas importantes para se fazer previsões como a temporalidade, a noção de arcanos estáticos e móveis, e até o exercício de propor datas específicas para acontecimentos previstos.
Há que possa tecer críticas (provavelmente infundadas) ao fato de Parisse se utilizar apenas dos 22 Arcanos Maiores. Porém, é preciso compreender essa medida como um traço do estilo profissional do autor em vez de considerar a ausência dos 56 Arcanos Menores como uma falha de sua prática. Ainda que seja inegável e completamente endossada a utilização de todos os 78, não se pode discriminar quem se utiliza apenas dos 22 Arcanos Maiores. Além de serem o cartão de visitas e a porta de entrada do Tarô, é importante reparar que muitos profissionais franceses frequentemente se valem apenas dos Maiores em consultas, palestras e cursos, na maioria das vezes com absoluta dedicação e eficácia.
Pela primeira vez em língua portuguesa, eis um livro de origem francesa que expõe a prática adivinhatória com naturalidade e segurança, já que é fruto de um profissional em atividade e em constante experimentação daquilo que aplica. Mesmo para quem não usa ou não gosta do Tarô de Marselha, o livro é adaptável a todo e qualquer Tarô que siga a estrutura clássica dos Arcanos Maiores marselheses.* Para quem não conhece o oráculo e deseja começar com um estudo sério e profundo, Tarô de Marselha: a jornada do autoconhecimento é um título interessante por mostrar a nós, leitores brasileiros, o oráculo enquanto sistema — vivo e que passa muito bem, por sinal — de símbolos que refletem a nossa vida no presente e, também, o passado e o futuro.
Por fim, o leitor deve estar ciente de que tem mãos uma obra em progresso, isto é, que não se encerra neste volume. Ele é o primeiro de uma série de livros que se valem do Tarô de Marselha para realizar consultas oraculares, fazendo jus à tradição francesa, popularizada por Oswald Wirth, de encarar o Tarô como uma máquina de imaginar, isto é, de conseguir ver nos 22 Arcanos Maiores, de modo assombrosamente detalhado e sempre genial, tanto o micro quanto o macrocosmo.
* Essa estrutura diz respeito ao número de cartas e à numeração delas, a saber: 22 cartas, sendo que O Louco é grafado como 0 (zero), O Mago é o arcano 1 e assim sucessivamente até O Mundo (21). Uma sugestão para quem deseja conhecer, começar a estudar o Tarô de Marselha e aplicar os ensinamentos de Florian Parisse, é o kit (livro e baralho) O Tarô de Marselha, de Carlos Godo, inteiramente revisto e atualizado pela Editora Pensamento.
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