26 de março de 2017

AMPLIANDO A CARTA DO DIA

E quando um só arcano não responde com clareza sobre como será o período estipulado? 
E se uma simples carta parece não ser suficiente para inspirar a melhor postura? 

Segundo os tibetanos, Buda certa vez disse que a mente é limitada para compreender o ilimitadoFaço então uma leve e rápida analogia com o arcano diário, tido muitas vezes como uma carta enigmática porque nem sempre responde à questão formulada ou pouco diz a respeito do que é necessário ser feito para alcançar determinado objetivo. 


Cada carta de Tarot é ilimitada. O arcabouço simbólico contido num simples arcano pode sugerir infinitamente uma série de conceitos, preceitos e respostas. É inesgotável. Sendo assim, uma carta sempre dirá alguma coisa, estejamos preparados para ouvir ou não. Mas só a partir da clara intenção é que é possível contextualizar a mensagem do arcano. A princípio, a carta do dia não necessita de perguntas, mas para ser assertiva em relação ao momento, ela  depende de uma ou várias intenções. Quero saber como será o dia no geral? Quero saber o que acontecerá de bom? De ruim? Quero saber o que devo fazer em relação a algo ou alguém? Deve haver um filtro, um ponto sobre o qual repousamos nossa atenção. Por isso digo que quanto mais pontual for a programação da carta que será sorteada, melhor será o seu aproveitamento.

Uma das possibilidades é a seguinte, já testada e recomendada:




1. DESAFIOS 
O que demanda atenção, o que chama atenção, o que desafia. 
Os possíveis percalços.

2. POSTURA
Como deve ser a postura física, mental e emocional. O real conselho. 
E como está no centro, pode ser considerada a carta mais importante da tríade: é o ouro do dia.

3. OPORTUNIDADES
O que se aprende, o que se ganha, o que se assimila neste dia. 
Possíveis lições ou mesmo conquistas. 


Fácil e rápido, mas profundo. Pode ser feito com qualquer Tarô, naturalmente, mas trago um exemplo com The Buddha Tarot, de Robert Place [Llewellyn, 2004], um dos baralhos temáticos mais interessantes que me fisgaram nos últimos tempos. 





1. DESAFIOS 
Dois de Vajras Duplos [Copas]

As questões afetivas, as alianças e os afetos é que demandam atenção extrema. Alimentar as uniões tende a ser necessário para haver harmonia. O alerta é para que a coerência afetiva se instale. 

O curioso é que, neste baralho, os peixes são um dos Oito Símbolos Auspiciosos do Budismo Tibetano — os presentes que os deuses dão a Sidarta Gautama quando ele atinge a iluminação e se torna o Buda. Os Peixes, tão bem associados à imagem tradicional do DOIS DE COPAS, representam fidelidade, harmonia e predisposição para estarem juntos no oceano, uma das representações do próprio Samsara, a nossa existência aqui e agora.


2. POSTURA
Amitabha: O Buda de Lótus [Rei de Paus]

O Rei de Paus sugere uma postura verdadeiramente atenta, capaz de entender os detalhes e avançar no que denota estagnação. Este é o Rei do ânimo que movimenta a tudo e a todos como que exigindo uma reação à altura da vida: cheia, repleta de situações e chances de aprender e também ensinar. A carta sugere responsabilidade: agir de acordo com a vontade, mas não com a impulsividade. 

The Buddha Tarot apresenta este Rei como Amitabha, um d'Os Cinco Dhyani Budas — que são os curadores supremos do meio ambiente externo e interno. São também chamados de Jinas ou Cinco Budas da Meditação. Cada um deles rege uma família com seu respectivo símbolo. Amitabha, que significa 'luz infinita', é o Buda vermelho da família Lótus, associada ao elemento fogo e arcanizado então como o naipe de Paus. É dito que este buda purifica o carma e o desejo, expandindo os poderes da real percepção e da confiança no que é preciso ser feito ou alcançado. Assim, é Amitabha quem transforma os venenos em águas de cura. Outro detalhe curioso é o animal sagrado da família Lótus, o pavão, abaixo da figura búdica. Cada um olha para o lado oposto, exigindo também atenção ao que deve ser encarado [casa dos Desafios] e como deve ser resolvido e melhor aproveitado [casa das Recompensas]. Sim, a direção e a linguagem corporal das personagens podem ser muito auspiciosas. 



3. OPORTUNIDADES
Ás de Jóias [Ouros]

A recompensa não só se garante como se materializa! O ÁS DE OUROS representar um presente, uma ação concreta que se constata ou se sente. Sugere um gesto ou mesmo um objeto. Assim, a tendência é receber algo em troca pelos esforços ou pela clareza que se alcança a partir da reflexão, da demonstração de afeto e da postura atenta.

Cintamani, a Jóia que concede os desejos, é uma referência direta às Três Jóias do Budismo, que são o Buda [o exemplo em que se pode se inspirar para atingir a iluminação], o Dharma [os ensinamentos, os textos e as pérolas budistas] e o Sangha [a comunidade, o meio em que se vive e se convive]. Essa jóia, claramente associada à ideia de riqueza e de valor, é representada como uma bola repleta de pedras preciosas com uma rampa afunilada no topo. Além de ser tido que ele realiza todo e qualquer desejo, a Jóia é como uma semente: simboliza o que é propício e o que vai além da vida e da morte. 



TRÊS CARTAS PODEM MUDAR MUITA COISA

O ideal é chegar ao oráculo como um propiciador de ações sensatas, como um instrumento para despertar. Por mais que pareça utópico considerar as cartas dessa maneira, é forçoso tentar aproveitar ao máximo a experiência com o Tarot. Mesmo havendo poucas cartas à frente. E mesmo que as intenções sejam consideradas menos nobres, nenhuma pergunta merece o desprezo. Exceto o mexerico, a fofoca, a especulação e a curiosidade vazia. 


No caso do nosso exemplo, podemos dizer que o dia será marcado por divergências afetivas [Dois de Copas na casa dos Desafios] que exigem uma posição atenta e compenetrada ao que realmente importa no momento, sobretudo nas relações mais importantes [Rei de Paus na casa da Postura] para então haver reconciliação, acordo ou harmonia a olhos vistos [Ás de Ouros na casa das Recompensas]. Constatar o equilíbrio após tomar a devida atitude.

De acordo com Robert Place em seus livros e workshops, numa leitura de três cartas é prudente respeitar a cadeia de três arcanos, lendo-as de modo interdependente. Em conjunto. Aproximando a prática oracular dos preceitos budistas, uma carta está associada a outra porque tudo se constrói a partir de causas e efeitos. É auspicioso encarar os três arcanos como uma cena completa. Ainda assim, a carta central é a mais significativa, já que determina uma postura específica a ser assumida durante o período. 

E por falar em período, é preciso deixar claro que as três cartas podem ser programadas, antes do embaralhamento e do sorteio, para alguma outra demarcação de tempo, como um semana, uma quinzena ou um mês. 

Confira, inclusive, o meu Tarot Mensal no Personare. O procedimento é semelhante e você fica sabendo de tudo que está por vir e como deve lidar com as situações.

Lembre-se de anotar ou fotografar as cartas que saem. A sequência deve ser lida e relida sempre que possível para tomar noção de como o período se desenrola e como as cartas o espelham. É importante mergulhar nas imagens, ir fundo nos sinais que elas suscitam e trabalhar os significados tradicionais dos arcanos. Nada será à toa se a intenção e o procedimento forem autênticos. 



Oráculo é auspicioso porque te chama à atitude.
A cada dia. 

Então desperte.




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