The Tarot of Prague BabaBarock, 2016 |
Uma dos meus hábitos mais
antigos é acender uma vela antes de uma leitura de Tarô. Diante de um
consulente, durante uma consulta virtual e mesmo à luz do dia, garanto a chama acesa no ambiente. O motivo é simples e significativo: como leitor de imagens,
tenho a função de contar histórias — histórias que se desvelam conforme desvelo
as cartas, histórias desconhecidas por mim e mesmo pelos meus clientes.
Histórias deles. Histórias que podem ser minhas. Então me ponho como
facilitador dessas histórias. O que faço é engendrar as palavras a partir das
imagens: construo uma narrativa, seja longa ou concisa, tanto com o baralho
inteiro quanto com uma carta apenas. E para caminhar no desconhecido dessas tramas — no escuro do exercício simbólico — é necessário uma lamparina, uma lanterna. Por isso as velas assumem o papel de geradoras da inspiração e da intuição. É a luz do oráculo. Quem lê os arcanos tem o dever de
gerir o calor dessas histórias.
Evoluíram as lâmpadas dos contos de fadas para a haste moldada na cera das abelhas. E nela ainda o gênio. Uma alquimia milenar. A chama deve ser
implementada e respeitada como fonte de clareza em relação aos símbolos
analisados: a faísca mais antiga incidindo sobre a simbologia. Força vertical, que toca as alturas. Ao lado das
cartas, uma vela aquece o ambiente e a relação das pessoas ou dos instrumentos
envolvidos na leitura do Tarô. E ela prende a atenção de modo discreto — é
uma forma simples e ao mesmo tempo poderosa de tonificar a consulta. De ascensionar cada presságio.
The Tarot of Prague BabaBarock, 2016 |
Em vez de maldizer a escuridão, acender uma vela. Que é trazer
o fogo para si — o elemento ligado à produção do alimento e à transformação da
vida antiga em uma nova. Essa medida reforça o que uma leitura pode fazer por
nós e por nossos consulentes: resgatar o dínamo interior, reavivar a autoconfiança
e suscitar uma postura decidida frente ao que exige atitude ou ao que está
por vir. Em poucas palavras, traz luz a um modo diferente de ver e viver as circunstâncias; abre o apetite em
relação ao mundo, tão vasto quanto se imagina.
Uma vela, por mais simples que
pareça, assegura esses propósitos de forma serena e até mesmo charmosa. Minha
sugestão é optar por velas pequenas e aromáticas, especialmente as que vêm ou
caibam em vidros. Evite velas votivas ou muito compridas que podem atrapalhar
ou poluir sua performance oracular. Siga a faísca da intuição. Ela se alastra.
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PROLEGÔMENOS PARA O VATICÍNIO LUMINOSO
A chama de uma vela condensa todo o fogo dos céus, das terras, dos
mares de todos os tempos. Uma vela acesa honra as sacerdotisas, os contadores
de histórias, as adivinhas e os leitores do passado, do presente e do futuro. Peça,
antes e depois de cada leitura das cartas, que haja eloquência e sensatez ao
lidar com as imagens de cada carta e boa vontade com cada um dos seus
consulentes. Quando se lê o Tarô, você está se dedicando a outra pessoa ou a um
objetivo. A vela serve como lembrete para haver consciência, tranquilidade e
responsabilidade diante do oráculo.
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Este procedimento recebe
conotações variadas de profissional para profissional, dentre elas a religiosa
e a decorativa. Por isso deixo absolutamente claro que a eficácia do Tarô não
depende de nenhum aparato sobre a mesa de leitura. Uma consulta significativa
pressupõe estudo, dedicação e sincero respeito às cartas e aos consulentes.
Ressalto ainda que trazer uma vela à mesa da leitura é uma medida arbitrária e não
uma condição para as cartas responderem às perguntas. A segurança está na
prática. Os recursos estéticos são parte de uma ritualística pessoal, mas não
são condições para um bom atendimento. A beleza de uma consulta de Tarô parte do
oraculista. E a excelência, tão buscada, depende do seu preparo — sua luz, suas
velas interiores. Jamais dos instrumentos ao redor do baralho. Em vez de maldizer a oráculo, manter o bom senso.
Porque acender uma vela é se deixar inspirar pelo Eremita, que caminha — com pés e cajado firmes no chão da realidade — pelo campos ensolarados e pelos vales sombrios de todos os tempos. Uma vela é a prova de querer vencer o medo do mundo. Alumiar. É a confiança na luz de si. É a branda proteção dos escudos celestes.
A emulação da Estrela.
The Tarot of Saints Robert M Place — Llewellyn, 2002 |
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e objetos associados à leitura do Tarô