25 de setembro de 2013

ARCANO PIVA | poemas descritos com o Tarot












abandonar tudo. conhecer praias. amores novos.
poesia em cascatas floridas com aranhas
azuladas nas samambaias.
todo trabalhador é escravo. toda autoridade
é cômica. fazer da anarquia um
método & modo de vida. estradas.
bocas perfumadas. cervejas tomadas
nos acampamentos. Sonhar Alto.














monstro de puro amor
curare
estilo cerâmico de Nazaratequi
pandemônio de Zeus
Eros atravessando
o tímpano com um 38
gavião de arame farpado
núcleo do veneno fiel














Todos os dedos do Sol
nas asas do gavião-peneira
que anjo ou deva pirado assombrou
a folhagem da sua alma?
a nuvem marcha
o sanhaço lambe o vento no
corrimão do Mundo
céu esculhambado
licor de aurora boreal
sonho ofegante de árvore-cinema









E para que ser poeta
em tempos de penúria? Exclama
Hölderlin adoidado
assassinos travestidos em folhagens
hordas de psicopatas
atirados nas praças
enquanto os últimos
poetas
perambulam na noite
acolchoada


















Bomba atarefada
Bomba desastre
anjo de vôo de abutre
garoto-bomba               mini-Tarzã
bomba solar do barão Julius Evola
bomba na bunda de Hitler
sonhos secos em Tóquio
agonia de uma princesa deplorável









ROBERTO PIVA
25 de Setembro de 1937 - 30 de julho de 2010

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embaralhados e sorteados de

20 Poemas com Brócoli | Massao Ohno/Roswitha Kempf, 1981.
Estranhos Sinais de Saturno | Editora Globo, 2008.

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24 de setembro de 2013

JARDIM DE DELÍCIAS

este jardim é meu, apenas para que a vossa paz seja respeita-
da; para além da porta que dá acesso à rua do jardim, ides ad-
quirindo, pouco a pouco, o fulgor de manifestar, no vosso corpo, o tempo;

Maria Gabriela Llansol | Apoptose



The Tarot of the Sevenfold Mystery | Hermes Publications, 2012.


Só sei que trabalhar em casa tem suas mil glórias: jornada de herói. Pântano pavimento de contrariedades administráveis. E sinto o dia auspicioso, cheio de frio e cinza de chuva. Trabalhando desde cedo na tela do Mac, lendo pessoas e páginas, reviro futuros antigos em baralhos recém-chegados. O entregador dos Correios já aparece dizendo 'bom dia, Leonardo; este aqui veio dos Estados Unidos. Assina aqui, por favor'. É Primavera e a egrégora favorece a sobreposição de sensações e impressões acerca do mundo. Renovar os meandros.

Entre o Cinco do leite derramado perto da ponte e o Sete do devaneio conjurado em alta voltagem poética, o Seis de Copas equilibra o teor dos vasos. Um jardim suspenso entre desilusão e expectativa. O senso de serenidade que se evoca do prazer. O recinto da fruição.

Mr. Crowley e Madame Harris esquematizam o portal do Senhor do Prazer de modo que haja fluência. A dicção do gozo é treinada em pétala. Sexo com a pessoa amada seguido de um belo café da manhã na varanda, por exemplo. Não dissocio, de modo algum, o protótipo deste arcano à sensação bucólica. Há de se ter um jardim por perto.



Crowley-Harris Thoth Tarot | AGMüller, 1986.


Mas o desejo de escrever para esta carta, apesar de antigo, veio forte com a nova estação ao abrir e embaralhar o mais recente trabalho de Robert Place, The Tarot of the Sevenfold Mystery, publicado no ano passado pelo seu próprio selo*. A lâmina, batizada de The Gardener, é um primor aos olhos acostumados à pinta e à cena de Pamela Smith: uma donzela pré-rafaelita, nos moldes de Burne-Jones, regando seus vasos de modo aplicado à delicadeza — um convite à atmosfera de horizonte interior: calmaria, sossego. Até melancolia, se não dou de ombros às atribuições mais variadas dos estudiosos. 



Haindl Tarot | US Games, 1990.


Uma dessas atribuições, aliás, me esboça um sorriso. Hermann Haindl, criador do assombroso Haind Tarot, grava o hexagrama 58, A Alegria, na base desta carta. Rachel Pollack traça, no livro escrito sobre o baralho, as concepções do artista em relação à ideia de felicidade, de sucesso e dos bons momentos entre pessoas queridas. Um lago sobre outro lago. The Joyous Lake — coerente relação entre a sabedoria oracular chinesa e o naipe de águas, apesar de todas as minhas reservas e ressalvas a atribuições deliberadas que se fazem entre um sistema divinatório e outro.



IN AN OLD GARDEN

Cresci em um grande quintal repleto de árvores, plantas e portões antigos de ferro fundido. Criava inúmeras personagens de modo quase instantâneo e encarnava cada uma delas durante a semana, com amigos e irmão ou 'sozinho'. Entre a realidade e a imaginação, o prazer de ser e sentir. Em Copas nos permitimos outros mundos. O paralelo necessário da magia. 




Smith-Waite Tarot | US Games, 1971.


Entre. A preposição que tenho repetido até aqui porque são justamente as sobreposições que fazem deste arcano um jardim secreto de conhecimentos e gentilezas. No Tarô Smith-Waite, especificamente, as crianças se relacionam 'em um velho jardim', segundo a Chave Pictórica escrita por seu idealizador. As taças repletas de flores e um guarda devidamente armado no fundo à esquerda, fazendo a ronda pelo caminho ladrilhado. Estamos literalmente no quintal da casa. Vendo a imagem em preto e branco percebe-se as duas dimensões que a artista conseguiu plasmar em uma das cenas mais doces da galeria de Copas. Gentileza, delicadeza, inocência e a chance de fazer do que é simples, inocente e sincero uma oportunidade de grandeza. 



GET BACK TO SERENITY

Mas Leo, um jardim não é Ouros puro? 
Não, puro não. Que são vasos senão Copas? Receptáculos. Recipientes que recebem a terra. O jardim pressupõe as formas da água. O passado do fruto é a própria semente e não só, mas o fruto anterior. Daí, talvez, posso jogar luz aos atributos clássicos de nostalgia e memória vinda à tona. A nossa velha infância permeando o gramado.



Morgan-Greer Tarot | US Games, 1979.


Para os italianos, o Sei di Coppe é o que se pode chamar de arcano di ritorno. Combinado, por exemplo, com o O Carro, significaria a volta de um antigo amor, ou mesmo recordações que levariam o coração a um estado sereno.  Com O Eremita, no entanto, é um velho amigo que retorna, provavelmente depois de muitos anos, jogando luz nas memórias — um presságio de saudosismo. Mas é a serenidade o cerne, característica que pode fazer questionar a ideia de sucesso a qualquer custo que esta carta não prenuncia. E para quê perder-se na loucura da correria se não é hora nem lugar? Nutrir os afetos na figura de uma planta é tão importante quando trabalhar pesado para pagar as contas. Uma postura intuitiva tende a ser mais valiosa que toda a tensão do mundo lá fora. Aliás, de inimigo ele tem pouco, diria um mestre Zen que rejuvenesce ao longo dos anos, curvado aos seus canteiros. Um jardim de delícias, se [me] permito. 


Cresço, ainda hoje, nos meus próprios quintais. Em outros, não só no da infância. É encontrando o ponto de suntuosidade que a natureza dos sentimentos oferece que treino minha leitura de mundo. Em consonância com a beleza e a verdade, independentemente do passado; entre a possibilidade de respirar e a necessidade de agir. É primavera. E os pés vão descalços aguar as heras no vento, com todo o amor de Flower Child que me define.

A fruição é gradativa; se insinua aos que a regam. 

















L.






17 de setembro de 2013

ARCANOS E CRISTAIS

Crisocola, Ametista, Sodalita e Serpentina
Haindl Tarot | US Games, 1990.



































Desde bem pequeno os cristais me fascinam. As pedras preciosas, como via nos filmes, nos gibis e nos livros de aventura, eram um constante sonho de consumo. Fui colecionador daqueles fascículos que traziam amostras de vários minerais, os quais catalogava e acomodava cuidadosamente nos estojos apropriados, feito um geólogo aplicado. Mas nas jornadas esotéricas dos anos seguintes, as pedras não acompanharam o turbilhão bibliográfico que se colocava à minha frente — de Gerald Gardner a Aleister Crowley e seus muitos parênteses, adendos e extras. Exceto em alguns sonhos memoráveis, como aquele com uma coruja cravejada de pontas azuis conversava comigo sobre os ancestrais, meu tesouro continuava incólume no armário, longe das vivências, dos feitiços e dos oráculos. Até então, apenas artefatos de contemplação aos olhos fascinados de um menino. Até então.

Retorno agora de uma viagem visceral pelo Peru, onde encontrei drusas, estrelas e pontas de cristais em pleno contraste com o artesanato fabuloso dos pueblos que visitei. Folheava 'à toa' um livro sobre o assunto na livraria do aeroporto de Lima quando fui fisgado na hora: dei de cara com a descrição da Serpentina, um dos elementos que trouxe do mercado de Ollantaytambo na forma de uma pirâmide. Pronto, entendi o recado. Já em casa, me vejo garimpando na biblioteca todos os livros relacionados a pedras, independente do enfoque: do terapêutico ao geográfico, estudar as pedras é uma lição de mundo, não só de vida. Nos faz perceber que somos mesmo poeira brilhante numa distância de bilhões e tão perto pela retina em cores. Então o ABC dos Cristais, de Antonio Duncan, foi o seguinte a ser re-devorado. Os livros certos aparecem na hora certa, dizem. As drusas e as gemas também. Verdade.



PERFORMANCE CRISTALINA


























Percebi, no xamanismo ao redor de Cusco e no sagrado em Machu Picchu, que reconectar-se exige constância. Feeling para manter o corpo funcionando no ritmo do espírito. E tenho constatado que os cristais são chaves para destravar de vez algumas portas que julgamos abertas e até mesmo outras que nem supomos que existam. Uma delas, por excelência, a intuição. Digo que são constatações porque comecei a fazer uso direto das pedras em meus atendimentos, que até então livres de todo aparato que desvie a atenção dos meus confluentes — céticos e cartesianos em sua maioria. Mas no atendimento virtual, quando a mesa de trabalho é só nossa, tenho me permitido os símbolos programados. Assim me mantenho em conexão com essas vibrações específicas. Abertura ao que elas oferecem. Uma condição óbvia [para alguns] é que o trabalho com os cristais insufla uma conduta transparente, firme e segura para lidar com as questões que se apresentam. Ensinam, sobretudo, a nos darmos conta do termo 'energia' com um pouco mais de atenção.



PEDRAS DE CARTOMANTE

























É lidando com esses vidros naturais de força extrema que regulamos os ciclos e nos abrimos ainda mais à vida. Digo isso por sabermos, de antemão, alguns enigmas da existência pelo privilégio de viver a magia narrativa que é o Tarot. Unir as forças cristalinas às arcanas pode triplicar o desempenho diante de clientes e mesmo em trabalhos solitários de percepção e aguçamento dos próprios sentidos. Por isso que decidi elencar alguns dos cristais indicados para oraculistas. E para quem tem preguiça de lidar corretamente com as pedras, desde a purificação [expor ao tempo aberto em água filtrada com sal grosso, por exemplo] até a programação [meditar com a pedra ao som de um lounge, direcionando as vibrações que deseja e proferindo a função que ela terá], sugiro que simplesmente os traga consigo, junto ao corpo, ou mantenha sobre a mesa durante as leituras. 

Poderia elencar um cristal para cada arcano, embora as propriedades cristalinas terapêuticas ultrapassem em número as referências simbólicas das cartas, tornando tudo muito vago — como qualquer associação sistêmica meramente pessoal relacionada ao Tarot. E não, mais gororoba esotérica não. Já existe de sobra. Em vez disso, me atenho a peças facilmente encontradas em lojas especializadas, comuns em sua maioria mas indiscutivelmente belas e poderosas como a Ametista, a Sodalita, o Quartzo Rosa e o Ônix, instrumentos acessíveis a todo e qualquer cartomante. As mesmas que estão desde cedo expostas à tempestade lá no meu quintal. E saiba que estas são apenas algumas possibilidades e sugestões de associações. Fazer dos cristais um estudo constante é tão válido quanto trilhar o infinito caminho das cartas.













SODALITA 
Sendo a Pedra da Intuição, como às vezes é chamada, ter uma Sodalita por perto é sinônimo de canalização e fluência no discurso simbólico. Um cristal promotor de insights por estimular a visão de modo direto, sem se perder em meio a contradições e paradoxos trazidos por outras pessoas,  a Sodalita é uma das pedras oraculares de mais fácil acesso, mesmo que ainda nem tão conhecida pelo grande público. Favorece uma postura verdadeiramente intuitiva quando é necessário mergulhar no que o consulente deseja saber ou precisa fazer para resolver, agindo como uma facilitadora na arte de traduzir padrões arquetípicos. É o cristal de Sodalita que estimula uma compreensão significativa dos sinais apresentados pelo acaso ou mapeados. É um elemento de jornadas interiores precioso por instigar a integrar aspectos de modo sereno, fazendo com que se veja a realidade com a intuição aguçada e as palavras bem colocadas. 

CRISOCOLA 
A pedra que me encontrou em meio a tantos bruxedos em sua forma bruta e também na moldado em ovo. Alertando-me que era uma Turquesa Andina, a vendedora elogiou a pedra até me fazer comprá-la ao perceber o meu fascínio pelo tom. A Crisocola é um mineral considerado até mesmo superior à Turquesa em seus atributos esotéricos e terapêuticos. Sua força é estritamente feminina. Fortalece a força do corpo físico emanando gentileza e poder. É, literalmente, uma pedra da Deusa. Suas energias antigas, quando ressoam nas pessoas por meio de sua beleza, se fazem atuar logo de cara. Tenho percebido a diferença nos atendimentos por estar com a Crisocola por perto. Ela governa o fluxo de energia e comunicação e permite a canalização do conhecimento de modo claro e objetivo. Sendo uma aliada poderosa para quem fala para viver, ajuda a abrir um canal entre uma consciência mais elevada e a expressão verbal, concedendo discursos divinamente inspirados. Nada melhor para quem lida com imagens por meio da voz, não? Permite, ainda, que falemos sem máscaras, através da intuição da própria sabedoria, não por informações simplesmente adquiridas. Nos conscientiza da energia que dispomos ao mundo. Tanto a palavra quanto o silêncio, diante desta pedra, estão bem dignificados.


SERPENTINA 
Esta pedra simboliza, literalmente, o Poder da Serpente. Serve para ativar e elevar as forças da Kundalini e é ideal para quem dança, encanta, sibila. Celebra a condição de oráculo por meio do encantamento. Ajuda a eliminar energias bloqueadas e permitir que a saúde e a beleza fluam, havendo reequilíbrio sempre que necessário. É uma pedra poderosa para curadores, magos e aqueles que trabalham com energia e conhecimento nada convencionais. Calmante para o corpo emocional, ela permite que eliminemos todo e qualquer medo de mudanças e de dificuldades. Tem este nome por ser semelhante à pele ofídica, o que me atraiu logo de cara, numa terra de constantes jornadas e reconhecimentos de animais aliados.

AMETISTA 
Uma das pedras mais comuns mas não menos poderosas e importantes do nosso país, a majestade roxa que é a Ametista vem a ser um instrumento indispensável para todo e qualquer oraculista que se preze. Famosa por ser usada em jóias e talismãs desde o Antigo Egito e passando pelo mito relacionado a Baco e a Diana, este cristal é símbolo de proteção espiritual e purificação. Aglomerados e geodos deste elemento são chaves para uma rotina tomada por beleza, tranquilidade e lucidez. Oferece a chance de criar um escudo energético contra a maioria das forças nocivas de quem vem até nós, especialmente quando a consulta é pautada em ansiedade e rancor. Ideal para harmonizar ambientes, na real, todos os cômodos de uma cada merecem uma Ametista. Recomendada a todos, é um belo artefato de meditação e geração de energia para reciclar atitudes e sentimentos. Desordens nervosas e outros desequilíbrios podem ser controlados a partir do uso dedicado de uma drusa de Ametista, além de ser um estimulante para manter a saúde física, mental e espiritual em dia. 


ÔNIX 
Foi também no Peru que encontrei [ou fui encontrado por] uma pirâmide desta pedra, em sua variação negra. A beleza de uma das pedras mais utilizadas em rituais de magia veio às minhas mãos por um meio de uma señora bastante enigmática aos pés do santuário de Machu Picchu: — La piedra de las brujas, amigo. Tomado pela suntuosidade do objeto, acabei trazendo sobretudo pelo fascínio com que a mulher tratava o produto, como se houvesse alguma relação muito antiga com ele. Indicada para estudantes, professores, advogados e psicólogos, é ideal para quem deseja manter o autodomínio intacto diante dos desafios cotidianos. Tradicionalmente associada a Capricórnio e refletida n'A Justiça por alguns — meu signo solar e arcano pessoal, surpreendente e respectivamente — é desde sempre uma das minhas favoritas. A pedra cor-de-noite guarda ainda o segredo da materialização de tudo o que se deseja. Consolida o poder de outros cristais em vez de aumentá-los, como um carimbo a constatar a força suscitada dos outros. Mágica por excelência, instiga o oraculista a fazer uso harmonioso de sua intuição e a narrar os eventos com os pés no chão, inclinando-se à objetividade e à sinceridade frente aos símbolos das combinatórias.



ENTRE CARTAS E CRISTAIS

Embebendo um cristal nos mistérios d'A Sacerdotisa
Vision Quest Tarot | AG Müller, 1998.

Purificar, tonificar, energizar, imantar, fortalecer, expandir. Alguns poucos grandes verbos que fazem a diferença antes, durante e depois de ler as cartas. 

● Programar um cristal, como costumam dizer, significa carregá-lo com alguma função. Profira, enquanto segura a pedra escolhida, tudo aquilo que você deseja que a pedra viabilize. 


● É indicado deitar o cristal escolhido em cima do seu baralho de uso para 'zerar' as energias entre uma leitura e outra. Uma drusa atenua ou intensifica tensões, desde que respeitados seus atributos. Para descarregar um Tarô, sugiro que você tome uma pedra devidamente purificada e programada para este fim. 



Limpando e protegendo o oráculo
Aleister Crowley Thoth Tarot | AG Müller, 1986.

● Segure o cristal minutos antes de começar uma leitura, tanto para interpretar atentamente as cartas que serão sorteadas quanto para ouvir uma interpretação. As pedras oferecem foco às questões, além de ampliar intenções e harmonizar a atmosfera em que você se encontra — seja diante de um cliente, presencial ou virtualmente, seja diante da pessoa que lerá para você. 

● Uma das práticas mais fantásticas envolvendo esses dois universos e que merece um texto a parte, é a que eu chamo de INFUSÃO: ato de programar um ou vários cristais com determinada imagem arquetípica. Se quero, por exemplo, ter um cristal d'O Sol para levar comigo por onde for, é bem possível se tenho um cristal devidamente purificado. Esta prática, um verdadeiro encantamento, pode ser feita a partir da fusão entre o arcano escolhido e a peça destinada a ser o 'recipiente' imagético. Cristais, sobretudo os de quartzo, são perfeitos para esse tipo de trabalho. Visualize, com o devido preparo mental, a carta sendo gravada dentro da pedra. Sinta-o pulsando em consonância com a imagem. Se o cristal for transparente, o trabalho pode ser ainda mais nítido: coloque a lâmina atrás da pedra e visualize a amálgama. Essa medida pode se estender a outros oráculos como runas ou mesmo hexagramas e exige, naturalmente, que você seja responsável com as energias a serem trabalhadas. Sempre.




+ DICAS PRECIOSAS

























 A estética, fator muitas vezes apagado da perfomance do tarólogo, é essencial para um atendimento gratificante, já que nem só de acertos e erros se faz a cartomancia. Saiba, no mínimo, quais são cristais que você tem ou quer ter por perto.

 Gostou de uma pedra? Pesquise sobre ela TAMBÉM a nível geológico. Saiba de onde ela vem, os mitos que a envolvem, como é extraída, qual sua dureza e outras características relevantes de sua composição. Ah, e pergunte-se porque você gosta tanto dela. As respostas, vindas bem lá de dentro, vão surpreender você.

● Tire as pedras do bolso! Oxigenar esses elementos é crucial para que eles 'respirem' de acordo com você. Para haver proteção, não adianta manter a Turmalina perdida em algum canto inacessível da bolsa. Se mora em apartamento, coloque seus cristais na janela. Se mora em casa, mande a preguiça dar uma volta e exponha cada um deles à chuva, ao sol e à lua. As pedras são jóias de Gaia e merecem o contato constante e variado com suas forças.


● Estude as formas de cristais que você já tem em casa ou deseja adquirir. Geradores, biterminados, arquivistas, aglomerados, guardiões, transmissores e canalizadores são apenas alguns dos variados tipos que encontramos ao longo do caminho. Um exército mineral ao nosso dispor para tomar ciência do quão rica é a existência, seus arcanos e meandros.

Muito cuidado com as lojas em que você pretende em comprar seus cristais. Certifique-se de que fazem um bom serviço e, no caso de estabelecimentos virtuais, saiba se as imagens são mesmo do item que você está comprando.

● Não acredita em nada disso? Nem eu. Não se crê numa pedra, constata-se. Ela existe, assim como a energia. Somos energia; cristais são energia. Mas se preferir não se dedicar a prática alguma de purificação ou programação, faça uso da beleza dos cristais elencando os que você realmente gosta para testemunhar suas atividades. Invariavelmente as forças tendem a ser favoráveis aos seus propósitos.


Por fim, espero ter sido claro ao apontar alguns conceitos, mesmo que rapidamente, sobre os cristais lado a lado com os arcanos. Assim como os cristais me ajudaram perceber que são eles os ancestrais mais antigos do qual falava a coruja azul. E enquanto recolho meus tesouros lá no jardim, desejo que você tenha boas surpresas com suas pedras — as que já possui e as que virão. E que faça da sua condição de oráculo e/ou consulente uma realidade cada vez mais brilhante, refletindo suas próprias cores no assombro das horas. Na formação mágica que é nossa vida.

Arcana, por excelência. 



L.




B I B L I O G R A F I A

DUNCAN, Antonio. ABC dos Cristais. Círculo do Livro, 1992.
SIMMONS, Robert; AHSIAN, Naisha. The Book of Stones. North Atlantic Books, 2007.
WALKER, Barbara G. The Book of Sacred Stones. Harper&How, 1989.

10 de setembro de 2013

LUGARES SÃO DEUSES






ABRINDO OS PORTÕES DA SERENDIPIDADE

É do acaso que nós, tarotistas e cartomantes, fazemos o centro do nosso ofício. Ler as cartas é um exercício que exige certo grau de refinamento – nao só estético, mas visual. Há de se ler os lugares com alguma destreza e até mesmo argúcia. Fazer dos olhos um máquina de captar os sinais deste centro – o acaso – e atribuir os necessários sentidos ao que vemos. E são as diferentes roupagens que o Tarô assume que aquecem os músculos da analogia. Nossa musa, nossa prática diária.

Não lembro qual foi a primeira vez em que cheguei até o Tyldwick Tarot. Pelo facebook temos a chance de perceber esse acaso  - ou destino, fado, sina – de modo até mais nítido se colocarmos sentido. E aí a magia acontece, pois as imagens necessárias nos chegam. Sei que foi há algumas semanas, quando visitei o site Malpertuis, vendedor oficial do baralho, e explorei os Arcanos Maiores e Menores. Foi identificação imediata com os universos que designer Neil Lovell conseguiu expressar em 78 cômodos-objetos-lugares. Nestas cartas pode-se ver o poder de síntese e até mesmo de infinitude que cada trunfo do Tarot traz e suscita. 


DUAS QUESTÕES PARA COMEÇAR

Abri o deck, passei os olhos por cada carta e dispus todas elas sobre minha mesa de mármore. Embaralhei todas elas e, como quem entra num palácio pela primeira vez — costume que celebro a cada deck adquirido — fiz duas perguntas iniciais para me apresentar ao baralho e saber aonde realmente eu estava entrando. 

Quem sou eu em você? 
Então ele veio: O Papa com o o Dez de Espadas. Um sacerdote de lâminas, fonte de inteligência e palavras acuradas. Sibila antecipando universos. 






O que você pode fazer por mim? 

O Mago seguido da Rainha de Copas. O baralho Tyldwick é uma  máquina de poemas. 
O corpo da Musa que encanta seus leitores.



Fico feliz por encontrar este trabalho porque lugares são deuses. Isso é um fato para poetas e escritores que dançam pelas imagens nas paredes. E isso não é apenas uma metáfora, é um feeling porque nós escrevemos nossa visão de mundo com as cartas. Com o Tyldwick Tarot, é possível [re]criar não apenas as histórias dos consulentes, mas também os lugares e as situações de modo ainda mais rico, já que devidamente ambientadas  à natureza de cada arcano. 


ORNAMENTOS ASSOMBRADOS POR BÊNÇÃOS

Como colecionador e leitor de tarôs, tenho o costume de avaliar a impressão e o acabamento dos baralhos que adquiro. Exatamente como um corrector de imóveis, passo os olhos e as mãos sobre esse maço com a satisfação de estar entre um dos melhores itens já comprados. O Tyldwick Tarot é um primor. Começa com a caixa estilizada, passando pelas bordas douradas – o que faz deste baralho uma verdadeira barra de ouro – e terminando pela abertura fácil de um leque de cartas que deslizam perfeitamente sobre qualquer superfície digna. 





O espaço habitado transcende o espaço geométrico. Sei disso. Vivencio esse fato todos os dias e escrevo — constatação poética. Sendo assim, as imagens do Tyldwick Tarot são mais que lembretes dos corpos aparentemente ausentes – destaque para O Diabo, por exemplo, que nos intimida num espelho negro – por fazer com que mergulhemos de cabeça na simbologia de um castelo magicamente construído a partir dos quatro elementos. Nunca um Tarô suscitou, pelo silêncio e ao mesmo tempo pelas dimensões que inaugura e reflete, uma variedade de significados e divindades tão consistente e até mesmo um tanto preocupada com a estrutura tradicional das cartas. A beleza das composições gráficas de Lovell são assombros e bênçãos frequentes.  E o acaso, que nos acompanha a cada leitura, faz deste baralho um oportunidade de revisitar os próprios conceitos dos arcanos sem fugir do que já conhecemos e aplicamos.  

Bachelard, na Poética do Espaço, diz que “a casa adquire as energias físicas e morais de um corpo humano”. É como se cada protagonista desse lugar ao piso, aos muros e aos ornamentos que definem o mistério primordial do Tarô. Este é um baralho para poetas, arquitetos, fotógrafos, magistas e apaixonados – por lugares, pela natureza, pelo desconhecido e, sobretudo, pelo Tarot. No centro do destino, na rota do infinito. 

Rezemos um banquete à Musa. 
Serendipidade.




Para saber mais sobre o Tyldwick Tarot 
e também para comprar o baralho, acesse 
www.malpertuis.co.uk




E clique aqui para ler a resenha completa [em inglês].