17 de setembro de 2011

TARÔ NA COZINHA

Tenho uma relação mais que afetiva e acadêmica com a Itália. É genealógica, espiritual. A stregoneria, o malocchio, os benandanti e as peregrinazioni daquela terra são mais que elementos culturais. São ingredientes que aprendi a pesquisar e a questionar com mais afinco a partir do contato que tive com Ludovica, no tempo em que morei na Úmbria. Mas também, de certo modo, sempre evitei falar. Uma postura bastante solitária, confesso, mas essencial para não perde il filo, a conexão primordial, digamos assim, com o meu reino ancestral. Até porque, chi cucina ha regole, misteri e segreti che non svelerà mai*. Ocorre o mesmo com as práticas do espírito.

O tarô, peça-chave do altar que carrego no peito, são os chamados tarocchi (se lê "tarôqui", assim como o meu sobrenome, Chioda, que equivale a "Quioda"). Esse termo em italiano ressoa mais forte quando pronunciado, percebe? Talvez sejam as raízes vibrando no alto dos montes do centro da bota, onde tudo começou. Pois então, são esses mesmos ingredientes - esses símbolos - compõem a távola das matronas, que empunham tal qual o Mago la pasta que inspira o divino no paladar dos mortais.

Morena Poltronieri, Stefano Biolcati e Antonella Melandri, três estudiosos da cozinha e dos tarocchi, criaram um verdadeiro livro de receitas arcanas. La Cucina dei Tarocchi é uma publicação apetitosa para quem aprecia um bom prato, um bom vinho, um bom livro e, obviamente, uma bela leitura de cartas.



Que tal um filé para honrar O Imperador?
Ou uma massa d'A Estrela, com direito a creme? Vão nove ovos e o suco de um limão, anotem.
A arte da cozinha é a arte mágica por excelência. É por entre as panelas que os deuses nos espreitam.

Va bene, lavoriamo. Enquanto tomo meu café reviro o maço
pensando em qual carta virá trazendo uma receita.

Qual o sabor e o aroma dos arcanos?
Bacio a tutti,


L.

Questo è per te, Ludo.
Non avevo trovato questo libro a Perugia, ma ora è qui con noi.

La nostra magia è propriamente la nostra magia, vero?
Andiamo sempre. Caminare è potere.
Un bacio sulla tua eternità.


* quem cozinha tem regras, mistérios e segredos que não se revelarão nunca.
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13 de setembro de 2011

ÁS DE COPAS




a formação dos desejos
ato de respeitar as escolhas do peito

coerência afetiva

se não amas tudo,
como podes sentir amor?

ser afetivamente coerente:
saber a cada gole do êxtase
o vinho da vida



Ace of Cups - Thoth Tarot
taroteca.multiply.com

10 de setembro de 2011

LEMOS MAL O MUNDO




Lemos mal o mundo
e logo dizemos que ele nos engana.

Quantas barricadas o pensamento
do homem ergue contra si próprio!

Se lanço minha própria sombra no caminho
é porque há uma lâmpada em mim
que ainda não se acendeu.




Rabindranath Tagore
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8 de setembro de 2011

VIRTUDE XIV



A temperança é essa moderação pela qual permanecemos senhores de nossos prazeres, em vez de seus escravos. É o desfrutar livre, e que, por isso, desfruta melhor ainda, pois desfruta também sua própria liberdade. Que prazer é fumar, quando podemos prescindir de fumar! Beber, quando não somos prisioneiros do álcool! Fazer amor, quando não somos prisioneiros do desejo! Prazeres mais puros, porque mais livres. Mais alegres, porque mais bem controlados. Mais serenos, porque menos dependentes. É fácil? Claro que não. É possível? Nem sempre, sei do que estou falando, nem para qualquer um.É nisso que a temperança é uma virtude, isto é, uma excelência: ela é aquela cumeada, dizia Aristóteles, entre os dois abismos opostos da intemperança e da insensibilidade, entre a tristeza do desregrado e a do incapaz de gozar, entre o fastio do glutão e o do anoréxico.



A temperança pertence, pois, à arte de desfrutar; é um trabalho do desejo sobre si mesmo, do vivo sobre si mesmo. Ela não visa superar nossos limites, mas respeitá-los. Ela é uma regulação voluntária da pulsão de vida, uma afirmação sadia de nossos poder de existir, em especial do poder de nossa alma sobre os impulsos irracionais de nossos afetos ou de nossos apetites.


A temperança não é um sentimento, é um poder,
isto é, uma virtude.

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André Comte-Sponville | Petit Traité des Grandes Vertus.
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6 de setembro de 2011

O CAMINHO DA AUTOCONFIANÇA

Ontem a minha querida editora do Personare escreveu aos colunistas da Revista pedindo sugestões de artigos sobre autoconfiança. Fiquei pensando no meu instrumento de trabalho, nessa parte indivisível que me é o tarô e matutei sobre o tal conceito. Autoconfiança? De onde vem? Embaralhei os 78 arcanos e pedi, com toda a clareza possível, que o arcano MAIOR que a representa emergisse do leque. Veio O LOUCO, para o espanto de muitos e para o meu sorriso interno. Em dois tempos redigi o artigo e ele já está publicado AQUI. Depois, passeando pela minha biblioteca, me deparei com a Rachel Pollack no seu maravilhoso Tarot Wisdom - Spiritual Teachings and Deeper Meanings, editado pela Llewellyn. Nele ela propõe um rápido método de leitura especialmente baseado no famoso Arcano Sem Número, bem eficaz para elucidar os pontos em que ele surge em nosso caminho. Vamos jogar? Sugiro manter o arcano em questão acima, como se fosse a posição 0 do jogo. Embaralhe os 21 ou os 77 restantes. Ou então permita que o Louco esteja no maço para que ela possa surgir em alguma das posições e ressaltar o seu poder de reflexão. Você escolhe. Disponha os arcanos na ordem numérica [naturalmente] em coluna, de modo que a última casa seja o caminho, os pés do Louco: as dádivas que as andanças proporcionam.


1. Como tenho sido um Louco na minha vida?


2. Como é que isso me ajudou?


3. Como é que isso me machuca?


4. Em que área da minha vida eu preciso ser mais Louco?


5. Onde é que o Louco não me serve?


6. Onde é que eu posso encontrar o Louco fora de mim?


7. Que presentes ele me traz?


O tarô, enquanto extensão do tarólogo e do consulente, é também o próprio caminho caleidoscópico que ele propõe. Variado, polissêmico. Um verdadeiro RPG. E quem o ministra firmemente, creiam, é o Louco. Íntegro em sua sabedoria maltrapilha, fiel às suas capacidades. Lembrei de Joseph Campbell, sempre maravilhoso, que afirmava aos seus estudantes: Follow your bliss. Seguir a nossa bem-aventurança é o único caminho que, além de ininterrupto, nos leva aonde temos que chegar, de verdade.

Aproveitem esses presságios.
Eles são fantásticos para o próprio crescimento até chegarmos a mestres de nós mesmos.



Uma grande jornada,



L.



* o artigo na REVISTA PERSONARE
TAROT E O CAMINHO DA AUTOCONFIANÇA - Exercite sua capacidade de conseguir o que deseja com o arcano O Louco


* crédito das IMAGENS
The Fool - Morgan-Greer Tarot - www.taroteca.multiply.com
The Wanderer - The Wildwood Tarot - the wildwoodtarot.com

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4 de setembro de 2011

ARCANO TALISMÃ #1







Tem gente que ouve o meu nome

Gravado em rajada de vento


Porque furacão e ciclone


Me servem de cama e assento.









Paulo César Pinheiro | Atabaques, Violas e Bambus, Editora Record, 2000.
Cavaleiro de Espadas
| The Aleister Crowley Thoth Tarot, AGMüller, 1986.


Parte do projeto 'Tarô, Magia e Cultura Popular', em desenvolvimento.

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1 de setembro de 2011

5 ANOS



Já estamos em setembro. Assim que o mês virou tive um clic: nossa, o CAFÉ TAROT faz 5 anos. O tarô tem se desenvolvido cada vez mais e mostrado ao Brasil que veio pra ficar e ficar bem à vontade. Há 5 anos tenho visto de perto a evolução dos blogs e sites no país e no mundo. Tendo desde cedo a oportunidade de interagir com outros profissionais, sinto as mudanças na maneira como que o nosso instrumento de mundo é visto pelos outros profissionais do esoterismo e até mesmo pelos céticos, pelos lógicos, pelos medrosos. A aceitação tem sido maior. Já cabemos em certa normalidade, mas com muitas ressalvas, claro.

Eventos como o mais recente Fórum Nacional de Tarô e Simbologia têm servido como divisores de água no que diz respeito à conscientização das pessoas por verem profissionais e interessados se reunindo. E também à dos próprios tarólogos, fazendo-se entender que ler as cartas não é uma profissão menos válida que a de ler os astros, por exemplo. A cartomancia não é marginal. Um crítico de arte lê imagens. Nós lemos símbolos. Combinamos e visbumbramos o infinito que há na moldura da combinatória. Transformações são sempre necessárias e uma repaginação, sobretudo mental, sempre é bem-vinda. A ignorância criativa é um dos problemas principais desse meio. Vale evoluir, mas inovando. Experimentando. A postura é de diálogo, de troca. De acréscimo e respeito de saberes. Estamos bem. Vamos bem.

E o CAFÉTAROT vai crescer ainda mais. Em breve cursos, palestras, atendimentos e encontros presenciais e virtuais serão divulgados. Hoje, mais que um blog, o CAFÉTAROT é uma marca. Desde 2007 fotografo canecas e baralhos sobre a mesa, unindo esses prazeres em total harmonia. Parece que estimula a leitura, o aprofundamento. Por isso é que é natural evoluir, a
final são cinco anos caminhando, sendo dez de envolvimento e dedicação aos arcanos.

Cada vez que subo num palco ou pego um microfone para falar em nome do tarô, ainda sinto o nervosismo, o "esqueci tudo" e o receio de não ser tão claro e direto como as cartas são pra mim. É que sei do quanto ainda tenho a caminhar.


Agradeço a todos os tarólogos, consulentes, amigos e curiosos que desde sempre prestigiam a evolução do meu trabalho. Registro aqui a minha felicidade por contribuir direta e indiretamente para o futuro cada vez mais promissor do tarô no Brasil.

Divido sempre com vocês
o êxtase dessa festa aqui em mim.




Ergamos as xícaras!
Muito obrigado.


L.