29 de maio de 2011

FORTUNA CRÍTICA DO DÉCIMO QUINTO ARCANO

PARTE PRIMERA




O demônio esbarra manso mansinho, se fazendo de apeado, tanto tristonho, e, o senhor pára próximo - aí então ele desanda em pulos e prezares de dansa,
falando grosso, querendo abraçar e grossas caretas - boca alargada.
Porque ele é - é doido sem cura.




...o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem - ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum.



O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver - a gente sabendo que ele não existe,
aí é que ele toma conta de tudo.




João Guimarães Rosa | Grande Sertão: Veredas, 1956.


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19 de maio de 2011

FRAGMENTOS DE UM TRATADO DE LEITURA DE IMAGENS

ou Impressões de leituras de um tarólogo esboçadas num moleskine velho.



[...]

É preciso dar-se conta de que somos criaturas de imagens. Seres de figuras. As imagens nos informam, assim com as histórias. Elas são a matéria da qual somos feitos.


Se as narrativas existem no tempo, as imagens se constatam no espaço.


O tarólogo sabe que as imagens se apresentam à sua consciência por meio de uma moldura, que é sempre uma superfície exclusiva em o milagre da leitura acontece. Ler uma imagem é imbui-la de um caráter estritamente temporal que é o narrar.


Essas imagens exercitam o intelecto. É um caminho para a inteligência do mundo, ou seja, para uma concepção menos assustada da realidade e da fantasia, mas não menos encantada.


O passado e o futuro, então, é uma ampliado através das limitações da moldura, que é também o portão, o ponto de partida.


O compromisso com as imagens é o da interpretação. É ele que espelha a ética do leitor, a índole da sua função, o coração do caminho que o leitor escolheu trilhar com os olhos.


18 de maio de 2011

UM ARCANO PARISIENSE


Fontaine de Médicis - Galatée dans des bras d'Acis le berger
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Le Diable

A analogia começa nos olhos, constato isso sempre. Nas minhas andanças por Paris, me deparei com um arcano esculpido nos Jardins de Luxemburgo: Ácis e Galateia, pastor e ninfa se amando enquanto Polifemo, cíclople, os espreita para dar fim ao romance de forma trágica. Ali vi 'O Diabo'. Mas só quando me dei conta do mito, porque antes eram apenas 'Os Amantes'. Uma deturpação. Um lençol embolado antes do gozo.

O demônio, na capital francesa, espreita todo mundo a toda hora. Mal se percebe.
E é exatamente aquele que tantos chamam de Cupido.