Estudo atribuído a Aleijadinho para a fachada da
Igreja de São Francisco de Assis.
ROMANCE XLVIII
OU DO JOGO DE CARTAS
Grandes jogos são jogados
entre a terra e o firmamento:
longas partidas sombrias,
por anos, meses e dias,
independentes do tempo...
Soldados e marinheiros,
camponeses e fidalgos,
ministros, gente da Igreja,
não há mais ninguém que esteja
fora dos vastos baralhos.
Batem as cartas na mesa,
na curva mesa da terra.
Partida sobre partida,
perde-se renome ou vida:
mas a perdição é certa.
Lá vêm corações em sangue,
lá vêm tenebrosos chuços:
defrontam-se ouros e espadas,
saltam coroas quebradas,
morrem culpados e justos.
Batem as cartas na mesa...
Cruzam-se naipes e pontos:
não se avista quem baralha
esta confusa batalha
de enigmas, quedas e assombros.
Grandes jogos são jogados.
E os silenciosos parceiros
não sabem, a cada lance,
que o jogo, fora de alcance,
pertence a dedos alheios.
Mesas de Queluz cobertas
de ouros, paus, espadas, copas...
(Minas, sangue, sofrimento... )
No baralho bate o vento
e o jogo segue outras voltas.
Cecília Meireles
Romanceiro da Inconfidência
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