INTERPRETANDO A MENSAGEM DO GRANDE POETA PORTUGUÊS
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Fernando Pessoa é místico por natureza. Também por palavras, por astros e por heterônimos que lhe desdobram em mil e expressam vidas exclusivas, exatamente como lâminas de um baralho. Atuam e interferem umas nas outras oferecendo destinos, orientações e outros símbolos. Mais e mais símbolos, cada vez mais.
Geminiano, dedicou-se ao estudo da filosofia clássica e contemporânea, sofrendo influências de Baudelaire e do movimento simbolista assim que começou a escrever. Seus estudos de ocultismo englobam toda a sua obra. Caminho mágico, caminho alquímico. Transmutações da própria personalidade. Como astrólogo, introduziu Plutão às cartas. Daí o caráter revolucionário, influência direta do planeta – desbravador de novos mares, tanto os literários e lingüísticos quanto os esotéricos e pessoais. Ou melhor, "pessoanos".
Fernando Pessoa é místico por natureza. Também por palavras, por astros e por heterônimos que lhe desdobram em mil e expressam vidas exclusivas, exatamente como lâminas de um baralho. Atuam e interferem umas nas outras oferecendo destinos, orientações e outros símbolos. Mais e mais símbolos, cada vez mais.
Geminiano, dedicou-se ao estudo da filosofia clássica e contemporânea, sofrendo influências de Baudelaire e do movimento simbolista assim que começou a escrever. Seus estudos de ocultismo englobam toda a sua obra. Caminho mágico, caminho alquímico. Transmutações da própria personalidade. Como astrólogo, introduziu Plutão às cartas. Daí o caráter revolucionário, influência direta do planeta – desbravador de novos mares, tanto os literários e lingüísticos quanto os esotéricos e pessoais. Ou melhor, "pessoanos".
Capa da Revista Orpheu e matéria publicada em 1928.
Modernista, investe palavras na Orpheu, uma publicação pra lá de curiosa para quem tem os olhos atentos de cartomante. Na ilustração de capa da primeira edição, assinada por José Pacheco, vê-se uma mulher entre duas velas, como se fossem pilares – nítida associação com a Sacerdotisa do tarô, a Senhora dos Mistérios que, em “O Último Sortilégio” da obra ortônima “Cancioneiro”, marca presença nos versos de uma iniciada. Eles descrevem práticas de magia ritualística, um assunto que Pessoa dominava muito bem.
Crowley & Pessoa
Jésuz Fernández Jiménez
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Aliás, a amizade com Aleister Crowley não pode deixar de ser mencionada. Entre mapas, nevoeiros e auroras douradas, o encontro em Lisboa foi bem mais que obscuro. Fico aqui pensando que "Psiquetipia" foi escrito logo depois de ter conhecido e analisado não só os dados astrológicos mas também os modos e os arcanos nas mãos do mago, mesmo que assinado pela pena de Álvaro de Campos. Pense nas próprias lâminas e leia o trecho.
“Conversa perfeitamente natural... Mas e os símbolos?
Não tiro os olhos de tuas mãos... Quem são elas?
Meu deus. Os símbolos... Os símbolos...”
Pois é, sempre me questionei: “qual teria sido o contato de Pessoa com o tarô? Como, aliás, perceber os arcanos em uma obra tão vasta, tão interrogativa e enigmática?” Bem, a resposta estava na própria pergunta. O tarô é um enigma se pensarmos em sua trajetória histórica, esotérica, simbólica. O poder das imagens que se tornam palavras. Palavras que traduzem imagens. Próprias. Íntimas. Secretas.
Então, se penso nos símbolos, sigo as pistas. Afinal, “tudo são símbolos”. Reparo, então, na famosa anotação que antecede o livro "Mensagem", escrita especificamente para decifrar o conteúdo da obra, recheada de sinais divinos e patriotas. Na verdade, este documento parece ter sido escrito especificamente para os profissionais e estudantes dos arcanos. Longe, então, das intenções sebastianistas e nacionalistas que o autor propôs ao seu estudo, a nota se torna um exercício de interpretação ou mesmo um manifesto que contribui à codificação das cartas e à compreensão do caráter essencialmente polissêmico de seus símbolos. Um documento valiosíssimo que merece atenção, pois infalivelmente contribui para a jornada individual do estudante.
NOTA PRELIMINAR
Apontamento de FP, s.d.; não assinado.
Aliás, a amizade com Aleister Crowley não pode deixar de ser mencionada. Entre mapas, nevoeiros e auroras douradas, o encontro em Lisboa foi bem mais que obscuro. Fico aqui pensando que "Psiquetipia" foi escrito logo depois de ter conhecido e analisado não só os dados astrológicos mas também os modos e os arcanos nas mãos do mago, mesmo que assinado pela pena de Álvaro de Campos. Pense nas próprias lâminas e leia o trecho.
“Conversa perfeitamente natural... Mas e os símbolos?
Não tiro os olhos de tuas mãos... Quem são elas?
Meu deus. Os símbolos... Os símbolos...”
Pois é, sempre me questionei: “qual teria sido o contato de Pessoa com o tarô? Como, aliás, perceber os arcanos em uma obra tão vasta, tão interrogativa e enigmática?” Bem, a resposta estava na própria pergunta. O tarô é um enigma se pensarmos em sua trajetória histórica, esotérica, simbólica. O poder das imagens que se tornam palavras. Palavras que traduzem imagens. Próprias. Íntimas. Secretas.
Então, se penso nos símbolos, sigo as pistas. Afinal, “tudo são símbolos”. Reparo, então, na famosa anotação que antecede o livro "Mensagem", escrita especificamente para decifrar o conteúdo da obra, recheada de sinais divinos e patriotas. Na verdade, este documento parece ter sido escrito especificamente para os profissionais e estudantes dos arcanos. Longe, então, das intenções sebastianistas e nacionalistas que o autor propôs ao seu estudo, a nota se torna um exercício de interpretação ou mesmo um manifesto que contribui à codificação das cartas e à compreensão do caráter essencialmente polissêmico de seus símbolos. Um documento valiosíssimo que merece atenção, pois infalivelmente contribui para a jornada individual do estudante.
NOTA PRELIMINAR
Apontamento de FP, s.d.; não assinado.
Biratan
http://www.biratan.com.br
“O entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do intérprete – o tarólogo – que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais serão, para ele, mortos, e ele um morto para eles. A primeira é a simpatia, em grau de simplicidade e conformidade com as citações. Tem o intérprete que sentir simpatia pelo símbolo que se propõe interpretar. Nesse quesito se enquadra a escolha adequada do baralho, a plenitude e sinceridade do desejo de optar pelas imagens a que se propõe a analisar. A atitude cauta, a irônica, a deslocada – todas elas privam o intérprete da primeira condição para poder interpretar. Cabe aqui a postura de respeito e fidelidade aos arcanos e à prática oracular. Somente pela verdadeira vontade e por constantes e sérios estudos é que as imagens passam a fluir na alma e no cotidiano do indivíduo disposto.
A segunda é a intuição. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe, porém não criá-la. A dedicação autêntica e continuada das análises promove insights, aberturas mentais e emocionais a outros níveis de interpretação e de capacidade narrativa, mas não nasce repentinamente; quando plantada, exige cultivo e cada arcano espalhado sobre a superfície de leitura. Por intuição se entende aquela espécie de entendimento em que s sente o que está além do símbolo, sem que se veja. Noções diversas sobre diversas situações, explicações e captações lingüísticas por meio da arte – eis a finalidade desta condição. Há de se tomar cuidado com projeções que se jogam ao olho mental, iludindo os menos e os muito preparados.
Heterônimos de Pessoa por Almada Negreiros,
Faculdade de Letras de Lisboa.
A terceira é a inteligência. A inteligência analista decompõe, ordena, constrói noutro nível o símbolo; tem, porém, que fazê-lo depois que se usou da simpatia e da intuição. Essa é a premissa básica para estabelecer associações entre as cartas e a cultura, a realidade palpável, às paisagens, aos fatos históricos e até aos imaginários. A inteligência arcana se traduz em criatividade lúdica, representativa e inovadora de quaisquer elementos que se queira abordar simbolicamente. Um dos fins da inteligência, no exame dos símbolos, é o de relacionar no alto o que está de acordo com a relação que está embaixo – o próprio ofício d´O Mago. Não poderá fazer isto se a simpatia não tiver lembrado essa relação, se a intuição a não estiver estabelecido. Então a inteligência, de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo poderá ser interpretado. Eis então o próprio ofício do leitor, que deve aproximar, com estilo, a vida estática das estampas às horas da vida material, sentimental e espiritual para extrair lições e orientações quando solicitadas.
a partir da pintura de Almada Negreiros, de 1954.
A quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de outras matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionado com vários outros símbolos, pois que, no fundo, é tudo o mesmo. O poder da analogia e da convergência entre disciplinas, conceitos e sistemas diferentes. Alude ao estudo interdisciplinar ao qual o tarô é sujeito, já que trabalha a interdependência simbólica e a evolução de significados sem alterar, diretamente, o fenômeno analisado. Não direi a erudição, como poderia ter dito, pois a erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura é uma síntese, e a compreensão é uma vida. Compreender o tarô demanda tempo e maturidade. Exige dedicação e uma determinada carga cultural do estudante, que passará a assimilar emoções, desejos e impressões às cartas após a análise descompromissada das mesmas. A compreensão se dá pela ingenuidade visual, ao olhá-las livres de qualquer significado imposto pela experiência alheia. Aliás, seriam elas uma síntese do mundo? Seriam potenciais, tendências da realidade através dos tempos? Ou então a memória do divino universo da alma? São questões precisas que promovem respostas individuais e coletivas. Assim, certos símbolos não podem ser bem entendidos se não houve antes, ou ao mesmo tempo, o entendimento de símbolos diferentes. Daí a importância dos estudos de literatura, filosofia, de religiões e de história da arte e do mundo. Para que os arcanos sejam “inteiros” nas mãos leigas, faz-se necessária a longa jornada de pesquisa – das origens de tais signos e significantes, de suas migrações e transformações ao longo dos séculos e das diferentes concepções artísticas. Esta quarta condição, que acaba sendo rara e verdadeira qualidade, apenas se torna nítida com o passar do tempo, quando desenvolvida e concretizada a intimidade e o gosto por deitar as lâminas. Exige, portanto, coerência e visão global. É a interpretação da vida. A compreensão dos mecanismos que sustentam o espírito do universo – sobretudo o humano.
A quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de outras matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionado com vários outros símbolos, pois que, no fundo, é tudo o mesmo. O poder da analogia e da convergência entre disciplinas, conceitos e sistemas diferentes. Alude ao estudo interdisciplinar ao qual o tarô é sujeito, já que trabalha a interdependência simbólica e a evolução de significados sem alterar, diretamente, o fenômeno analisado. Não direi a erudição, como poderia ter dito, pois a erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura é uma síntese, e a compreensão é uma vida. Compreender o tarô demanda tempo e maturidade. Exige dedicação e uma determinada carga cultural do estudante, que passará a assimilar emoções, desejos e impressões às cartas após a análise descompromissada das mesmas. A compreensão se dá pela ingenuidade visual, ao olhá-las livres de qualquer significado imposto pela experiência alheia. Aliás, seriam elas uma síntese do mundo? Seriam potenciais, tendências da realidade através dos tempos? Ou então a memória do divino universo da alma? São questões precisas que promovem respostas individuais e coletivas. Assim, certos símbolos não podem ser bem entendidos se não houve antes, ou ao mesmo tempo, o entendimento de símbolos diferentes. Daí a importância dos estudos de literatura, filosofia, de religiões e de história da arte e do mundo. Para que os arcanos sejam “inteiros” nas mãos leigas, faz-se necessária a longa jornada de pesquisa – das origens de tais signos e significantes, de suas migrações e transformações ao longo dos séculos e das diferentes concepções artísticas. Esta quarta condição, que acaba sendo rara e verdadeira qualidade, apenas se torna nítida com o passar do tempo, quando desenvolvida e concretizada a intimidade e o gosto por deitar as lâminas. Exige, portanto, coerência e visão global. É a interpretação da vida. A compreensão dos mecanismos que sustentam o espírito do universo – sobretudo o humano.
A quinta é a menos definível. Direi talvez, falando a uns, que é a graça, falando a outros, que é a mão do Superior Incógnito, falando a terceiros, que é o Conhecimento e Conversação do Santo Anjo da Guarda, entendendo cada uma destas coisas, que são a mesma da maneira como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo.” Menos definível porque, como a Beleza, insinua-se para poucos; apenas para as almas despertas. Menos definível pois só é constatada quando se joga e quando se escreve. É a transcendência do tarô. O dom de manipular as palavras – escritas e faladas que nascem da observação das cenas ilustradas em cada peça. Augúrios e presságios que são sussurrados e afloram no tempo certo. Qualidade de quem decodifica seus símbolos mais íntimos e os respeita. Como cartas. Como vidas. Como divindades. Como magia. Como profissão. A própria adivinhação e as revelações que indicam o norte ao consulente. Rotas de orientação que quando contempladas, oferecem conselhos e escolhas. Ferramenta do destino, alegoria da imaginação.
Símbolos. Pessoas.
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REFERÊNCIAS E RECOMENDAÇÕES
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LIVROS
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Pessoa, Fernando. Mensagem. Coleção A Obra-Prima de Cada Autor.
Editora Martin Claret, São Paulo, 2007
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Pessoa, Fernando. Poesias Ocultistas, 2ª edição.
Editora Aquariana, São Paulo, 1996.
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SITES
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Artigo de Izabel Margato, disponível na Cátedra/PUC-Rio.
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Imagens sem legenda encontradas no deviantArt ou no Google Imagens.
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Boa parte da obra poética de Fernando Pessoa pode ser degustada na Revista Agulha.
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