OS PODERES DO PAPA
Impossível analisar uma carta de tarô se não houver uma verdadeira jornada por entre seus símbolos. E não basta apenas saber suas palavras-chave e contentar-se com as verdades dos inúmeros livros e manuais, mas sim pesquisar, aprender a observar os arcanos e a anotar impressões, como um verdadeiro leigo, como um eterno estudante. Enquanto instrumento de trabalho e obra de arte, o tarô conta com inúmeras associações, sejam de natureza humana e social, sejam de personificação dos conceitos cósmicos e religiosos, por exemplo. Valendo-se da figura do Papa Bento XVI, neste momento, seu representante no tarô fala mais alto em analogia com as questões cotidianas – especialidade dos que sabem ver o tarô com os olhos livres, sem precisar fugir do seu sistema.
O quinto arcano maior, polêmico desde os primórdios pelos conflitos religiosos e alterações simbólicas que sofria, hoje ainda está caracterizado em roupagem cristã, já que vinculado à iconografia medieval, quando as cartas eram desenhadas e influenciadas pela estrutura social e religiosa.
Depois da Reforma, Roma começa a desvincular seus símbolos sagrados antes estampados nas cartas de jogos populares, algo que poderia macular a imagem da igreja. Seria imprudente haver uma gravura do Papa em maços de cartas para jogadores de tavernas. Em 1725, a Igreja ordenou para que os impressores removessem o Papa e a Papisa, por serem figuras de poder e heresia, respectivamente.
O Papa dá lugar a outras figuras, como Baco e um Imperador neste tarô belga
e no Minchiate Etruria, ambos do século XVIII – www.tarothermit.com/pope.htm
O papado surge a partir das ruínas do Império Romano desintegrado em 746, herdando dele o autoritarismo, a língua latina e a independência dos monarcas. Levando em conta as duas expressões correntes na sociedade medieval (poder espiritual e poder temporal), percebe-se que nem sempre essas forças se mantinham separadas, pois muitas vezes se confundiam e conflitavam exaustivamente. Quando os monarcas converteram-se ao Cristianismo, a Igreja Católica tornou-se uma organização formal e de caráter sagrado.
Houve, então, uma pretensão por parte dos bispos em transformar sua autoridade religiosa em autoridade política universal. Quiseram triunfar sobre os reis, imperadores e senhores feudais, assim como estes reinavam sobre seus fiéis. Daí o conflito entre o poder eclesiástico – gerado como força supranacional – e o poder monárquico, que concedia à Igreja a ordem espiritual, além da política que perdura até hoje.
Etimologicamente, o “papa” italiano vem do latim “pater”, utilizada até o ano 500 para caracterizar todos os bispos ocidentais. Aos poucos esse tratamento ficou restrito aos bispos de Roma – capital do império desfeito e sede da Igreja. O poder do papa teve grande impulso a partir de dois fatos: por um lado, o declínio do Império Bizantino quando Roma se viu livre das amarras que a prendiam ao Império Romano do Oriente, passando a agir como soberano. Por outro, recebeu forte apoio dos francos, dando à Igreja um duplo papel: além de poder espiritual, ela passava também a deter o poder temporal sobre as regiões que lhe pertenciam.
Do período renascentista até os dias de hoje, não se questiona a idéia do Papa ser o representante humano de Deus na Terra, a mais alta autoridade mundana em estreita ligação mística. No tarô, ele ocupava o maior posto da sociedade e da religião predominante, assumindo um lugar natural e convencional entre os demais trunfos.
Para Waite, é o “caminho objetivo das igrejas e dogmas”, o summa totius theologiae. Como em todos os baralhos, o Papa sofreu inúmeras deformações em sua estrutura, que acabaram afastando-o do conceito medievo de bispo, cardeal e padre para conceitos modernos de guru, mestre e místico. Claro que todos carregam o poder do contato divino, mas várias concepções modernas deixam de lado detalhes importantes que só são percebidos quando se analisa a carta com atenção, e não se baseando apenas em manuais ou no contexto de um determinado baralho. As novas concepções ignoram vários atributos, entre eles os de instituição, bênção, fé, religiosidade e obediência – características do bom e velho Sacerdote desde quando o tarô é tarô.
O símbolo do poder papal no arcano do Da Vinci Tarot, de Atanassov & Ghiuselev e na colagem primorosa de Kat Black (www.goldentarot.com), concebida a partir da pintura de São Luís, bispo de Toulose, por Simone Martini, 1318.
Outro símbolo além da mitra, do báculo, das chaves e da luva papal é o Anel do Pescador, ausente na maioria dos baralhos. Desde sua origem, a jóia tem essencialmente a função de selo. É provável que seu uso entre os bispos antigos fosse motivado, além das razões simbólicas de união e casamento com a divindade, pela funcionalidade e autenticação de seus atos. Ainda no período feudal, tornou-se também a marca do poder temporal dos governantes.
O anel indica elo, um vínculo. Vale como signo de aliança, voto e comunidade religiosa. Um destino compromissado, até. Ele une e isola ao mesmo tempo, sendo irreversível a postura que o cardeal assume diante de Deus – sua própria vocação, o fato de tornar-se esposo da Igreja – e ainda o símbolo do mistério nupcial de Cristo.
“Tu és Pedro, e sobre essa pedra edificarei minha igreja”. Até o início do pontificado de Bento XVI, o Anel do Pescador tem sido a insígnia referente ao primeiro homem que, segundo a tradição cristã, foi a “pedra” fundamental na fundação da Igreja – Simão, a priori, era um humilde pescador da Galiléia e discípulo de Cristo.
A jóia sofreu várias transformações até ser constituída de ouro puro e trazer a imagem de São Pedro sobre uma barca, lançando sua rede. Mantém-se como testemunho da origem e do significado do poder papal, pois quem o usa é apenas o sucessor do apóstolo Pedro. Atualmente, é o símbolo mais forte na mão de Joseph Ratzinger.
Aliás, falando no atual pontífice, sua autoridade e importância pode ser analisada sob o prisma temporal e espiritual, combinados na figura de chefe de Estado do Vaticano e claro, na de sucessor de João Paulo II. Pra qual lado da balança pende sua influência?
O cristianismo reaprendeu a lição da modéstia durante os últimos suspiros de Karol Wojtyla. Passou a conviver em harmonia com outras formas de sentimento religioso e se preparou para uma nova fase de sua história.
Apoiada na solidariedade e não no autoritarismo, buscou estimular o diálogo ecumênico e inter-religioso, mesmo que timidamente. Houve, porém, adversários a essas transformações dentro do próprio Vaticano – o ainda cardeal Ratzinger, afirmando convictamente que as outras igrejas, assim como todas as demais religiões, não têm acesso legítimo ao mundo divino.
Tal declaração denota o caráter individualista e monopolizado do antigo bispado. Pra quem pensava que o novo papa romperia com as velhas tradições e conceitos morais do catolicismo, enganou-se. Ele já afirmou com total propriedade que a religião católica é melhor que as outras e só se pode atingir a verdade por ela, que deve seguir intacta quanto aos valores cristãos.
O que importa é não perder sua identidade, sempre fiel ao que prega, mesmo com menos praticantes nas missas. Bento XVI ainda ressalta a oposição clara e sucinta aos modismos e novidades perante a Igreja. Nítida analogia com os atributos políticos do Imperador, agora ainda mais sólidos. É o árbitro de todas as questões morais e inquisitoriais, claro. Atenhamo-nos às cartas, então:
Historicamente, a mescla de atributos entre o dois arcanos é nítida. O papa é uma poderosa figura, tanto religiosa quanto simbolicamente. É a face humana de Deus, aquele que torna acessível o mundo transcendental por meio da crença, da moral e da política de ordem. Antes de um líder é um servo, já que separados o plano da matéria e o do espírito, atua como ponte entre o homem e o divino, dando origem ao termo “pontífice”. Intermedeia, ensina e mantém a palavra do seu Evangelho.
O Imperador lidera no plano material como autoridade direta. Ele cuida das terras vastas do horizonte ao seu redor enquanto o Hierofante (de hieros, sagrado e phantes, ensinar) comunica-se com seus fiéis. Aqui se encaixa a idéia de que a massa de católicos está distribuída por todos os lados, enquanto Bento XVI preza por uma Igreja centralizada, dando de ombros para o afastamento de católicos diante de suas posições dogmáticas. Vendo no mundo uma ameaça iminente à religião, tende a reforçar a identidade eclesiástica, mesmo que a conseqüência seja o distanciamento de boa parte do rebanho. Qualidade, e não mais a quantidade.
“Espero, neste curto reinado, ser um homem de paz”, pondera Ratzinger aos 78 anos, logo após sentar-se no trono. Já enfrentou um derrame hemorrágico na década de 90 e outros problemas de saúde em 2004. Sendo considerado um papa de transição – e o mais velho eleito até então –, o mundo provavelmente assistirá à sua decadência em alguma consonância com o arcano 13, A Morte. Ainda nos traços de Pamela Smith, vemos o religioso aos pés da Ceifadora — uma possível renúncia ao posto ou o fatídico fim do corpo terreno.
Enquanto isso, Bento XVI se depara com três objetivos importantes que, segundo o teólogo Leonardo Boff, farão toda a diferença durante seu papado:
Assumir o Vaticano com toda a agenda, recolocando a Igreja dentro do mundo moderno e dentro do mundo dos pobres;
Dialogar com os templos locais e torná-los mais descentralizados;
Retomar o diálogo entre a Igreja e as outras religiões para juntas ouvirem o drama que aflige a humanidade – o drama da fome, da miséria e da guerra.
Outra "novidade" trazida pelo sacerdote é a do papel do demônio no mundo, chegando a afirmar que o enviado do Diabo estará sob a máscara de um pacifista ou ecologista. Possivelmente herdado de João Paulo II, o conceito de oposição entre o Espírito Santo e o espírito mundano e diabólico tem papel aprimorado na teologia agostiniana de Ratzinger – uma leitura negativa da cultura e dos interesses que desencadeiam conflitos entre as duas cidades, a de Deus e a do Diabo.
Afinal, qual o sentimento que o povo teve por Bento XVI no início? Aversão, medo e desesperança. Enquanto o quinto arcano abençoa, o Diabo aprisiona. Essa seria a postura ética que vem sendo aplicada por Ratzinger, a de que o homem nasce mau e é imperfeito estruturalmente. Apenas a religião e o temor a Deus são necessários para uma vida digna. Muitos discordam e preferem ver o jogo de outra forma: o próprio Papa é o Diabo disfarçado.
Quando mal dignificado, pode sugerir excomunhão ou até pacto com o mal. Argumentos não faltam, basta notar as semelhanças entre as duas imagens.
Impossível analisar uma carta de tarô se não houver uma verdadeira jornada por entre seus símbolos. E não basta apenas saber suas palavras-chave e contentar-se com as verdades dos inúmeros livros e manuais, mas sim pesquisar, aprender a observar os arcanos e a anotar impressões, como um verdadeiro leigo, como um eterno estudante. Enquanto instrumento de trabalho e obra de arte, o tarô conta com inúmeras associações, sejam de natureza humana e social, sejam de personificação dos conceitos cósmicos e religiosos, por exemplo. Valendo-se da figura do Papa Bento XVI, neste momento, seu representante no tarô fala mais alto em analogia com as questões cotidianas – especialidade dos que sabem ver o tarô com os olhos livres, sem precisar fugir do seu sistema.
O quinto arcano maior, polêmico desde os primórdios pelos conflitos religiosos e alterações simbólicas que sofria, hoje ainda está caracterizado em roupagem cristã, já que vinculado à iconografia medieval, quando as cartas eram desenhadas e influenciadas pela estrutura social e religiosa.
Depois da Reforma, Roma começa a desvincular seus símbolos sagrados antes estampados nas cartas de jogos populares, algo que poderia macular a imagem da igreja. Seria imprudente haver uma gravura do Papa em maços de cartas para jogadores de tavernas. Em 1725, a Igreja ordenou para que os impressores removessem o Papa e a Papisa, por serem figuras de poder e heresia, respectivamente.
O Papa dá lugar a outras figuras, como Baco e um Imperador neste tarô belga
e no Minchiate Etruria, ambos do século XVIII – www.tarothermit.com/pope.htm
O papado surge a partir das ruínas do Império Romano desintegrado em 746, herdando dele o autoritarismo, a língua latina e a independência dos monarcas. Levando em conta as duas expressões correntes na sociedade medieval (poder espiritual e poder temporal), percebe-se que nem sempre essas forças se mantinham separadas, pois muitas vezes se confundiam e conflitavam exaustivamente. Quando os monarcas converteram-se ao Cristianismo, a Igreja Católica tornou-se uma organização formal e de caráter sagrado.
Houve, então, uma pretensão por parte dos bispos em transformar sua autoridade religiosa em autoridade política universal. Quiseram triunfar sobre os reis, imperadores e senhores feudais, assim como estes reinavam sobre seus fiéis. Daí o conflito entre o poder eclesiástico – gerado como força supranacional – e o poder monárquico, que concedia à Igreja a ordem espiritual, além da política que perdura até hoje.
Etimologicamente, o “papa” italiano vem do latim “pater”, utilizada até o ano 500 para caracterizar todos os bispos ocidentais. Aos poucos esse tratamento ficou restrito aos bispos de Roma – capital do império desfeito e sede da Igreja. O poder do papa teve grande impulso a partir de dois fatos: por um lado, o declínio do Império Bizantino quando Roma se viu livre das amarras que a prendiam ao Império Romano do Oriente, passando a agir como soberano. Por outro, recebeu forte apoio dos francos, dando à Igreja um duplo papel: além de poder espiritual, ela passava também a deter o poder temporal sobre as regiões que lhe pertenciam.
Do período renascentista até os dias de hoje, não se questiona a idéia do Papa ser o representante humano de Deus na Terra, a mais alta autoridade mundana em estreita ligação mística. No tarô, ele ocupava o maior posto da sociedade e da religião predominante, assumindo um lugar natural e convencional entre os demais trunfos.
Para Waite, é o “caminho objetivo das igrejas e dogmas”, o summa totius theologiae. Como em todos os baralhos, o Papa sofreu inúmeras deformações em sua estrutura, que acabaram afastando-o do conceito medievo de bispo, cardeal e padre para conceitos modernos de guru, mestre e místico. Claro que todos carregam o poder do contato divino, mas várias concepções modernas deixam de lado detalhes importantes que só são percebidos quando se analisa a carta com atenção, e não se baseando apenas em manuais ou no contexto de um determinado baralho. As novas concepções ignoram vários atributos, entre eles os de instituição, bênção, fé, religiosidade e obediência – características do bom e velho Sacerdote desde quando o tarô é tarô.
O símbolo do poder papal no arcano do Da Vinci Tarot, de Atanassov & Ghiuselev e na colagem primorosa de Kat Black (www.goldentarot.com), concebida a partir da pintura de São Luís, bispo de Toulose, por Simone Martini, 1318.
Outro símbolo além da mitra, do báculo, das chaves e da luva papal é o Anel do Pescador, ausente na maioria dos baralhos. Desde sua origem, a jóia tem essencialmente a função de selo. É provável que seu uso entre os bispos antigos fosse motivado, além das razões simbólicas de união e casamento com a divindade, pela funcionalidade e autenticação de seus atos. Ainda no período feudal, tornou-se também a marca do poder temporal dos governantes.
O anel indica elo, um vínculo. Vale como signo de aliança, voto e comunidade religiosa. Um destino compromissado, até. Ele une e isola ao mesmo tempo, sendo irreversível a postura que o cardeal assume diante de Deus – sua própria vocação, o fato de tornar-se esposo da Igreja – e ainda o símbolo do mistério nupcial de Cristo.
“Tu és Pedro, e sobre essa pedra edificarei minha igreja”. Até o início do pontificado de Bento XVI, o Anel do Pescador tem sido a insígnia referente ao primeiro homem que, segundo a tradição cristã, foi a “pedra” fundamental na fundação da Igreja – Simão, a priori, era um humilde pescador da Galiléia e discípulo de Cristo.
A jóia sofreu várias transformações até ser constituída de ouro puro e trazer a imagem de São Pedro sobre uma barca, lançando sua rede. Mantém-se como testemunho da origem e do significado do poder papal, pois quem o usa é apenas o sucessor do apóstolo Pedro. Atualmente, é o símbolo mais forte na mão de Joseph Ratzinger.
Aliás, falando no atual pontífice, sua autoridade e importância pode ser analisada sob o prisma temporal e espiritual, combinados na figura de chefe de Estado do Vaticano e claro, na de sucessor de João Paulo II. Pra qual lado da balança pende sua influência?
O cristianismo reaprendeu a lição da modéstia durante os últimos suspiros de Karol Wojtyla. Passou a conviver em harmonia com outras formas de sentimento religioso e se preparou para uma nova fase de sua história.
Apoiada na solidariedade e não no autoritarismo, buscou estimular o diálogo ecumênico e inter-religioso, mesmo que timidamente. Houve, porém, adversários a essas transformações dentro do próprio Vaticano – o ainda cardeal Ratzinger, afirmando convictamente que as outras igrejas, assim como todas as demais religiões, não têm acesso legítimo ao mundo divino.
Tal declaração denota o caráter individualista e monopolizado do antigo bispado. Pra quem pensava que o novo papa romperia com as velhas tradições e conceitos morais do catolicismo, enganou-se. Ele já afirmou com total propriedade que a religião católica é melhor que as outras e só se pode atingir a verdade por ela, que deve seguir intacta quanto aos valores cristãos.
O que importa é não perder sua identidade, sempre fiel ao que prega, mesmo com menos praticantes nas missas. Bento XVI ainda ressalta a oposição clara e sucinta aos modismos e novidades perante a Igreja. Nítida analogia com os atributos políticos do Imperador, agora ainda mais sólidos. É o árbitro de todas as questões morais e inquisitoriais, claro. Atenhamo-nos às cartas, então:
Historicamente, a mescla de atributos entre o dois arcanos é nítida. O papa é uma poderosa figura, tanto religiosa quanto simbolicamente. É a face humana de Deus, aquele que torna acessível o mundo transcendental por meio da crença, da moral e da política de ordem. Antes de um líder é um servo, já que separados o plano da matéria e o do espírito, atua como ponte entre o homem e o divino, dando origem ao termo “pontífice”. Intermedeia, ensina e mantém a palavra do seu Evangelho.
O Imperador lidera no plano material como autoridade direta. Ele cuida das terras vastas do horizonte ao seu redor enquanto o Hierofante (de hieros, sagrado e phantes, ensinar) comunica-se com seus fiéis. Aqui se encaixa a idéia de que a massa de católicos está distribuída por todos os lados, enquanto Bento XVI preza por uma Igreja centralizada, dando de ombros para o afastamento de católicos diante de suas posições dogmáticas. Vendo no mundo uma ameaça iminente à religião, tende a reforçar a identidade eclesiástica, mesmo que a conseqüência seja o distanciamento de boa parte do rebanho. Qualidade, e não mais a quantidade.
“Espero, neste curto reinado, ser um homem de paz”, pondera Ratzinger aos 78 anos, logo após sentar-se no trono. Já enfrentou um derrame hemorrágico na década de 90 e outros problemas de saúde em 2004. Sendo considerado um papa de transição – e o mais velho eleito até então –, o mundo provavelmente assistirá à sua decadência em alguma consonância com o arcano 13, A Morte. Ainda nos traços de Pamela Smith, vemos o religioso aos pés da Ceifadora — uma possível renúncia ao posto ou o fatídico fim do corpo terreno.
Enquanto isso, Bento XVI se depara com três objetivos importantes que, segundo o teólogo Leonardo Boff, farão toda a diferença durante seu papado:
Assumir o Vaticano com toda a agenda, recolocando a Igreja dentro do mundo moderno e dentro do mundo dos pobres;
Dialogar com os templos locais e torná-los mais descentralizados;
Retomar o diálogo entre a Igreja e as outras religiões para juntas ouvirem o drama que aflige a humanidade – o drama da fome, da miséria e da guerra.
Outra "novidade" trazida pelo sacerdote é a do papel do demônio no mundo, chegando a afirmar que o enviado do Diabo estará sob a máscara de um pacifista ou ecologista. Possivelmente herdado de João Paulo II, o conceito de oposição entre o Espírito Santo e o espírito mundano e diabólico tem papel aprimorado na teologia agostiniana de Ratzinger – uma leitura negativa da cultura e dos interesses que desencadeiam conflitos entre as duas cidades, a de Deus e a do Diabo.
Afinal, qual o sentimento que o povo teve por Bento XVI no início? Aversão, medo e desesperança. Enquanto o quinto arcano abençoa, o Diabo aprisiona. Essa seria a postura ética que vem sendo aplicada por Ratzinger, a de que o homem nasce mau e é imperfeito estruturalmente. Apenas a religião e o temor a Deus são necessários para uma vida digna. Muitos discordam e preferem ver o jogo de outra forma: o próprio Papa é o Diabo disfarçado.
Quando mal dignificado, pode sugerir excomunhão ou até pacto com o mal. Argumentos não faltam, basta notar as semelhanças entre as duas imagens.
Aquele que dá a bênção é o mesmo que amaldiçoa, como se pode ver pela sombra projetada na forma do bode.
Gravura de Eliphas Levi, no seu "Dogma e Ritual de Alta Magia".
O tarô sofre de polissemia aguda, mas é sempre bom parar e ver o que está literalmente estampado nas lâminas. Analogias com o cotidiano dependem de atenção e pesquisa. Muitas das invenções surrealistas e pessoais do tarô não preservam os atributos tradicionais do Papa, e esse é o grande perigo. Não é necessário ser católico para manter-se a figura do sacerdote cristão, apenas fazer valer sua moral de ordem, de contrato, de vocação, de fé e de rigidez mental, como se sente no atual representante do catolicismo.
Crenças a parte, o Papa é um símbolo vivo. Qual a razão de perder esses valores para uma nova roupagem, seja essa mitológica ou talvez mais de acordo com o famigerado movimento da Nova Era? Tais mudanças não se reportam ao estado perceptivo da lâmina, mas à coerência muitas vezes utópica de querer “tirar o Hierofante do pedestal”, explícita em uma publicação americana. Particularmente, fico com o aprofundamento dos símbolos tradicionais que perduram há tantos séculos.
O contraste entre o simbolismo tradicional e uma nova concepção artística do quinto arcano.
(Eatpoo Tarot Card Project, www.tarot.eatpoo.com)
Que a imagem fale por si enquanto o conceito se mantenha fiel. As versões antigas do quinto arcano em contraste com as modernas continuam gerando opiniões e sentimentos ambivalentes, assim como a sociedade vem nutrindo por Joseph Ratzinger. A imagem da lâmina não é o próprio Papa do Vaticano, mas Bento XVI encarna o Papa do tarô. Essa associação, baseada em símbolos semelhantes de poder, denota capacidade perceptiva e compreensão da realidade que o tarô sugere.
Nada, portanto, passa batido se a alma for grande e os olhos livres.
Está tudo nas cartas. Alguém duvida disso?
Então é heresia.
Amém,
Leo
Gravura de Eliphas Levi, no seu "Dogma e Ritual de Alta Magia".
O tarô sofre de polissemia aguda, mas é sempre bom parar e ver o que está literalmente estampado nas lâminas. Analogias com o cotidiano dependem de atenção e pesquisa. Muitas das invenções surrealistas e pessoais do tarô não preservam os atributos tradicionais do Papa, e esse é o grande perigo. Não é necessário ser católico para manter-se a figura do sacerdote cristão, apenas fazer valer sua moral de ordem, de contrato, de vocação, de fé e de rigidez mental, como se sente no atual representante do catolicismo.
Crenças a parte, o Papa é um símbolo vivo. Qual a razão de perder esses valores para uma nova roupagem, seja essa mitológica ou talvez mais de acordo com o famigerado movimento da Nova Era? Tais mudanças não se reportam ao estado perceptivo da lâmina, mas à coerência muitas vezes utópica de querer “tirar o Hierofante do pedestal”, explícita em uma publicação americana. Particularmente, fico com o aprofundamento dos símbolos tradicionais que perduram há tantos séculos.
O contraste entre o simbolismo tradicional e uma nova concepção artística do quinto arcano.
(Eatpoo Tarot Card Project, www.tarot.eatpoo.com)
Que a imagem fale por si enquanto o conceito se mantenha fiel. As versões antigas do quinto arcano em contraste com as modernas continuam gerando opiniões e sentimentos ambivalentes, assim como a sociedade vem nutrindo por Joseph Ratzinger. A imagem da lâmina não é o próprio Papa do Vaticano, mas Bento XVI encarna o Papa do tarô. Essa associação, baseada em símbolos semelhantes de poder, denota capacidade perceptiva e compreensão da realidade que o tarô sugere.
Nada, portanto, passa batido se a alma for grande e os olhos livres.
Está tudo nas cartas. Alguém duvida disso?
Então é heresia.
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Imagens:
http://www.taroteca.multiply.com/
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