Certa vez, fui solicitado para deitar as cartas em uma festa que contava com mesa e tenda apropriadas para a leitura. Mesmo que o barulho ao longe atrapalhasse um pouco, estava ali disponível aos convidados. Às convidadas, eu diria.
A primeira consulente, me lembro bem, perguntou se realmente eu consultava o tarô, pois isso era "coisa de mulher". Franzi a testa e disse um "não, nada a ver!" indignado enquanto embaralhava. Em minutos, a amiga do lado de fora já lhe gritava: "Vai demorar muito ainda?"
"A situação não tá muito boa", revelou após apagar a bituca do penúltimo Marlboro. Plano emocional e físico abalados, comprovaram as lâminas.
No final, depois de atentar sobre sua postura diante da bebida, da doença da mãe e do rompimento conjugal, confessou-me que nenhuma pessoa "sensitiva" havia sido tão sincera quanto eu, um mero rapaz que, como recompensa ou agradecimento, acabou ganhando um cigarro, uma lata de Smirnoff e um "muito obrigada" em lágrimas.
Primavera de 2006
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